Bolor

28.12.11



Covarde. Não consegue mesmo levantar os olhos e destinar tuas palavras vacilantes sem se perder no teu próprio medo, que te segue, não importa onde teus passos temerosos te levem. Rasteja por esse caminho escuro e úmido, cheio de curvas, atalhos, e de moitas, sempre prontas para te abrigarem ao menor sinal de perigo, ínfimo que seja.

Se esconde na sombra, mente a surdez. Foge.

É poeira rasteira, lodo e mancha. Contenta-se com a mediocridade e o anonimato seguro do esgoto fétido que se acostumou a morar, coabitado por ele, sua fraqueza, e os ratos. Desde que deixou de existir como um Ser Vivente, não se incomoda mais. Prefere as migalhas, os restos. O que não é mais útil para ninguém, pode ser para ele de valor vital, já que se acostumou com a vida no submundo das importâncias.

Fede. Esse odor impregnado, que teu corpo exala sem o menor pudor,
de medo.

*

Liquefeito.

11.12.11
Caos.

Abaixo de seus pés, nada. À sua frente, vácuo. Às costas, abismos. Um turbilhão de imagens, entrecortadas, avulsas, ininteligíveis, pairavam ao seu redor, porém não sabia de onde vinham ou de quem eram, ou de quando eram. Tentava, inútil, apanhar alguma das que pareciam mais sólidas, mas o tato falhava e ela logo se diluia, deixando um rastro madre-pérola no ar por um milisegundo. E esse sabor amargo-indefinido, que não conseguia sentir direito, que parecia ter sido gasto lentamente e se resumia num pequeno rastro semidissolvido que dormia no centro da língua, era estranho. Até agora não o conseguira reconhecer, mesmo que tivesse gasto um instante inteiro tentando desvendá-lo.

A confusão envolvia cada objeto. Alguns flutuavam invertidos, já outros derretiam em pleno córrego. Folhas amarelas brotavam do céu, envelheciam no caminho e chegavam sem qualquer resquicio de vida ao chão, transformando o Nada em um tapete de ilusões e extinção.

Calafrios percorriam sua espinha, mas os membros estavam paralisados, quietos e mortificados. Fora assim por toda uma existência, de procastinação e ímpetos cansados. Falência. Esse vazio estranhamente acolhedor e velho conhecido, agora inundando e tornanando pesado. Como se dentro de sua pele existisse uma escultura de chumbo. E sabia que isso só teria fim quando decidisse o que fazer daquele momento eterno. Estava suspenso, com a mente em queda-livre e os pés enraizados.

Suspirou lentamente, e abriu suas asas.

¨